sábado, 11 de julho de 2015

Um conto qualquer

  Eu vi corvos no céu. Minha vó costumava dizer que quando um corvo aparecia, alguma coisa ruim aconteceu ou iria acontecer. Tentei ignorar e apreciar as nuvens que formavam desenhos incríveis impossíveis de distinguir. Não entendia como tanta perfeição fora criada. As nuvens se moviam e vez ou outra o Sol aparecia para dar um olá. 
  Despertei dos meus pensamentos profundos quando senti o cheiro de queimado. A princípio pensei que fosse o bolo de cenoura que estava no forno, mas ao olhar pela janela da cozinha, vi a casa de minha vizinha pegando fogo. Por alguns segundos ou minutos talvez, paralisei e perdi a noção do tempo. Vi uma criança lá dentro. Liguei para os bombeiros e corri. Parece ter baixado o espírito da mulher maravilha em mim pois jurei que iria salvar aquela menina. 
  Quando entrei na casa, ela estava vazia, sem móveis, somente fogo. O incêndio tinha tomado conta da casa inteira. Subi as escadas e provavelmente foi ali onde ganhei uma queimadura no braço, mas no calor do momento não senti dor. Ali no canto do quarto estava uma garota de idade aproximada aos 6 anos. Tentei alcançá-la, mas o fogo a cercava. Nessa hora conseguia ouvir a sirene vindo de algum lugar. Quando vi a menina tossir e quase sufocar, estendi minha mão. Fui puxada para junto dela e quando a olhei direito, percebi que não tinha olhos e seus dentes eram enormes. Gritei, chorei e pedi por socorro e quando tornei a olhá-la, ela não estava mais ali. Era somente eu no meio de um fogaréu me sufocando com lágrimas e fumaça. Senti meu corpo acalmar e espairecer aos poucos. 
  Quando acordei, estava no hospital. Ao lado da minha cama, minha tia estava me olhando com uma expressão assustada e feliz ao mesmo tempo. O médico entrou e me perguntou o que havia acontecido. Contei para ele tudo conforme ocorreu, mas ele me olhava com dúvida. Os policiais que entraram no quarto minutos depois disseram que minha vizinha tinha se mudado havia meses e que a casa estava vazia. Não sabiam a razão para o começo do incêndio. Quando lhes perguntei sobre o estado da menina, se entreolharam de uma forma que fez-me arrepiar os pêlos do braço. Não entendi o que havia acontecido até a hora que eles disseram: "Não havia nenhuma menina quando encontramos você desmaiada junto com remédios na casa". Então fechei os olhos e me lembrei dos corvos.