Poema sem rima

A não ser pelos adjetivos carinhosos ao lado do pronome possessivo,

Você nunca foi meu

Não pertencemos à mesma classe gramatical

Somos opostos

Que tentam se encaixar

Como um quebra-cabeça mal resolvido

Mesmo que tenha sido dito

Um quase eu te amo,

O que eu deveria pensar?

Na primeira oportunidade

Escapou como água das minhas mãos

Escorreu e foi ser nascente

Nas mãos de um outro alguém

Não importa quantas vezes tenhamos tentado

O timing não bate

Quando eu estou apaixonada

Você está desapegado

Quando você quer namorar

Eu quero fugir

Admiro nossa teimosia

De tentar fazer dar certo

Quando o universo já deixou bem claro
Que a gente não vai ficar junto

Fato é que a saudade ainda se faz presente

Tem dias que eu te quero mais que tudo

Outros que eu te quero bem longe

Talvez quando eu souber dizer se a frase "eu te amo"
Tem concordância para nós dois

Eu consiga escrever poemas condizentes

Mais estruturados

E que façam mais sentido

Quem vai embora

Eu sei que para quem fica também é complicado. Não é fácil ser deixado para trás. Mas eu, que vou embora, largo o talvez que poderia ser a certeza que me faria feliz. Deixo tudo para trás, levando meu coração quebrado comigo, porque também dói deixar alguém.

Eu me torno aquela personagem do filme 500 dias com ela, que é odiada pelo cara. Ela só foi embora, só não quis ficar com alguém pelo qual não estava apaixonada e ela estava certa. Não existe motivo para ficar com alguém por quem não se está apaixonada, não faz sentido ficar, para tentar suprir uma necessidade de carinho. 

Eu gosto de você, mas não o suficiente para mantermos um relacionamento. Talvez você não entenda e me odeie por meses, mas não sei por qual motivo deveria ficar. Não quero ficar contigo por ter me acomodado com a tua presença.

Eu entendo que é terrível ouvir isso e apostar todas as suas fichas na gente enquanto eu desisto de tudo. Mas eu, que vou embora, fico na incerteza se um dia poderei voltar. Eu, que vou embora, levo comigo em silêncio, o sentimento que você não irá entender caso eu diga depois disso tudo. Eu, que vou embora, levo comigo o medo de te perder pra sempre.

Utilidade

Não existe lugar para mim aqui. Já passou a minha época, minha inocência, já passou o tempo em que eu era querida simplesmente por ser eu.

Hoje eu cresci e preciso ser útil para ter algum valor. Valor que é medido pelo quanto eu posso produzir e não pelo que sou. Minha presença já não vale nada. Sou objeto de interesse para as pessoas, até aquelas que eu mais amo. E dói. Dói saber que recebi uma ligação para fazer favores e não para saber como estou. Dói descobrir que aqueles que pareciam ser amigos, na verdade não são. Que só estão por perto quando precisam de algo. 

É frustrante saber que as relações sempre foram baseadas em trocas, mesmo não sendo monetárias. No fim, isso é tudo o que me sobrou: aceitar que às vezes sou objeto de interesse para alguns. Seja para sexo, para adiantar algum trabalho, para fazer favores, para ser um passatempo, para desestressar, para arrumar a bagunça de alguém, para amar e ser usada como saco de pancada.

Sou útil. Eu sirvo para algo, mas não sou necessária. Descartável seria a palavra correta para se usar. Algo passageiro, sem importância e substituível. 

Cobrança

Que que cê ta cobrando rapaz

Não sou tua mulher

Eu só não quero sentir coisa demais 

Por alguém que não se permite sentir um pingo sequer

Se tu ta querendo paixão

Me assume e diz o que sente

Não sou parque de diversão

Pra ficar nessa montanha russa contigo

Uma hora diz que quer me namorar

Outra diz que quer ser meu amigo

Eu acredito no que você fala

Mas se falta atitude

As palavras não valem nada

Não adianta jogar verde

Ja conheço tua jogada

Pede pra eu demonstrar

E quando digo o que sinto

Fica nervoso, começa a neurar

Cê não é homem de verdade

É só um moleque frouxo

Que se foda o que sinto

Se tu não for homem o suficiente

Pego minhas tralhas e desisto

Nem sei mais se vale a pena

Tentar fazer dar certo

Mas é que essa porra do teu beijo

Me mantém sempre por perto

19/5

Tá chovendo. Do céu e dos meus olhos. Tá inundando a cidade e meu travesseiro.
"Eu sempre vou ser teu", mas agora não é. Agora tá longe e não pode ficar comigo. Agora tá longe e eu vou torcer para que você não encontre outra pessoa, porque você disse que é meu. Mas eu sei que não é e sei que te prender não faz nenhum sentido. Sei que o melhor para você é te deixar e esperar que você encontre alguém que te faça feliz tanto quanto eu fiz.
Sinto o frio lá de fora se acomodando em mim. Vou voltar a ser a guria fria que era antes de você, não dar espaço para ninguém tocar no meu coração e esperar que um dia alguém consiga me aquecer de novo.

Davi

E tu Davi
Que um dia
Derrotaste Golias
Hoje já não pode lutar
Perdeu a batalha
Para algo chamado acaso
Chuva
Pista molhada
Ultrapassagem
E por milésimos de segundo
Não conseguiste desviar




Nas lembranças que tenho
Serás sempre uma criança
Com o rosto alegre
Com o sorriso de dentes separados
Me chamando para brincar

Parar para pensar

Fazia um tempo que eu não pensava na vida e no que ela tem sido. Nessa correria da vida, cheguei a pensar durante uns três minutos e esquecido logo depois.
Revi uma mensagem sua dessa semana, de um sonho que você tinha tido. Era sobre nós dois, casados e com um filho. Apaixonados, como sempre. Uma lágrima escorreu do meu rosto, porque parei para pensar. Talvez nosso futuro perfeito sonhado por você, esteja prestes a terminar. 
Você diz que não está bem e que não quer conversar nos poucos minutos de folga que eu tenho dessa correria. Eu sei que deveria te dar mais atenção, mas esses dias não pude.
Ás vezes me pergunto se realmente nos amamos ainda. Talvez amemos a lembrança que temos do que um dia fomos. E isso é estar preso ao passado, é não viver o presente e te privar de um futuro com alguém que te faça tão bem quanto eu.
Parar para pensar é pensar demais e levantar dúvidas e incertezas que não precisavam existir.

Vidros

O mal que me assombra me visita todos os dias. Se faz presente por ser carne viva. Mas como eu desejaria que estivesse morta...ou ao menos muda, para que os demônios em minha cabeça silenciassem e não tivessem que responder à uma palavra sequer. Para que se aquietassem e não quisessem tirar minha vida ou a dela. Deuses me perdoem por desejar arrancar o sangue de um DNA que também é meu.
"Ignore, deixa ela falar sozinha", e por tanto o fazer, enlouqueci por coisas que deveriam ser ditas.
Como Martha Medeiros um dia escreveu: "sou lúcida na minha loucura", temo estar entrando em depressão. A doença do século, dos jovens, atingindo-me outra vez? Autodiagnostiquei-me, como uma criança que acha saber tudo do mundo e ainda nem o conheceu. Drama de uma moça de dezoito anos, infantilidade mesmo após a pureza e a inocência terem sumido.
Como uma mulher forte, recuso-me a ter a maldição da família. Todas as mulheres perturbadas e loucas, geração após geração. Não sou como ela.
Tornei-me atriz de um enredo contado em filmes de época que, com o rosto delicado e o corpo de mulher, atrai homens e os seduz por diversão. Com um namorado apaixonado atravessando o país para me ver. Com o rosto delicado como de um anjo, mas a mente perturbada por demônios.
Impura
Amaldiçoada
Perturbada
E louca
Como ela?