sábado, 14 de janeiro de 2017

Vidros

O mal que me assombra me visita todos os dias. Se faz presente por ser carne viva. Mas como eu desejaria que estivesse morta...ou ao menos muda, para que os demônios em minha cabeça silenciassem e não tivessem que responder à uma palavra sequer. Para que se aquietassem e não quisessem tirar minha vida ou a dela. Deuses me perdoem por desejar arrancar o sangue de um DNA que também é meu.
"Ignore, deixa ela falar sozinha", e por tanto o fazer, enlouqueci por coisas que deveriam ser ditas.
Como Martha Medeiros um dia escreveu: "sou lúcida na minha loucura", temo estar entrando em depressão. A doença do século, dos jovens, atingindo-me outra vez? Autodiagnostiquei-me, como uma criança que acha saber tudo do mundo e ainda nem o conheceu. Drama de uma moça de dezoito anos, infantilidade mesmo após a pureza e a inocência terem sumido.
Como uma mulher forte, recuso-me a ter a maldição da família. Todas as mulheres perturbadas e loucas, geração após geração. Não sou como ela.
Tornei-me atriz de um enredo contado em filmes de época que, com o rosto delicado e o corpo de mulher, atrai homens e os seduz por diversão. Com um namorado apaixonado atravessando o país para me ver. Com o rosto delicado como de um anjo, mas a mente perturbada por demônios.
Impura
Amaldiçoada
Perturbada
E louca
Como ela?